Querido Diário...
Que saudades! Tantos anos depois e você ainda está no ar! Quanta coisa mudou desde a última vez em que nos encontramos...
Meus filhos, meus amores... Vocês cresceram! Como isso pôde acontecer tão rápido?! Malu com 12 anos, Henrique com 9. Não são mais bebês... Ou sempre serão??? Para mim, ao menos.
Maria Luiza (Malu), minha pré- adolescente mais linda. Você me lembra muito uma pessoa: eu. Não apenas fisicamente (claro que você é uma versão super upgrade minha!), mas no jeito de ser. Sua timidez, sua insegurança, seus medos...Coisas típicas da idade, mas que me lembram muito da adolescente que eu fui. Minha voz quase não era ouvida. Meus medos eram escondidos nas páginas de agendas escritas, escritas, escritas... Não tinha com quem conversar. Nisso, você leva uma baita vantagem: eu posso lhe ouvir, meu amor. Seja o que for, eu posso lhe ouvir. Muitas vezes, fico perdida sem saber como ajudar, mas eu posso lhe ouvir. Isso é muito, acredite. Se você conseguisse se enxergar como eu lhe enxergo...Você é linda, filha. Não apenas por fora (e você é uma gata, acredite! O menino lá da Itália também acha...kkkk), mas principalmente por dentro. Seu sorriso meigo demonstra a luz que brilha na sua alma. Brilho intenso, puro, de gente boa. Dedicada, inteligente, responsável... Tantas qualidades! Essa timidez que tanto lhe aflige vai ser controlada, acredite. Eu passei por isso. Ainda sou tímida, mas imponho a voz quando preciso. Você também vai conseguir. Deixa esses hormônios pararem de borbulhar. Quando esse conflito passar, vamos dar boas risadas dessa época. Que pena que não guardei meus diários! Você iria se ver muito neles.
Henriquinho, meu ataque cardíaco diário de cada dia. Você, por sua vez, é a energia em pessoa. Já acorda ligado em alta voltagem e só sossega na hora de dormir. Ao mesmo tempo que acho lindo essa sua ânsia pela vida, também fico meio perdida em saber onde eu me encaixo em tudo isso. Às vezes, queria que você parasse um pouco para me ouvir, prestar atenção no que eu digo, mas, como não consigo, acabo perdendo a paciência e brigando, gritando... Como será que você me enxerga? Serei a lembrança de uma mãe chata para você? Não queria que fosse assim. Precisamos encontrar o nosso ponto de conexão, meu pequeno. Sei que o vínculo com seu pai é forte, mas e o nosso? Deve estar em algum lugar por aí. Você, como sua irmã, também tem uma alma linda. É doce, é carinhoso, é inteligente.. Meio sem saco para estudo, mas ainda assim, muito inteligente. Acho que, mais do que você, sou eu quem precisa mudar. Preciso lhe enxergar como a criança ativa que você é. Menos cobrança, mais paciência. Vou tentar. Ainda há tempo de criar memórias queridas entre nós.
Vocês dois são muito diferentes, mas igualmente importantes para mim. Ser mãe decididamente não é uma tarefa fácil. Orientar dois seres humanos pela vida, cada um com suas características, é assustador, acreditem. Como é que logo eu que, muitas vezes, também me perco pelo caminho, vou saber fazer isso??? É cansativo às vezes. Muitas vezes. Mas, eu não trocaria essa experiência por nada no mundo. Desculpem meus erros, as palavras duras, as reclamações, os dias em que eu estou uma velha rabugenta... Perfeição não existe, nem de mãe.
Vamos vivendo um dia de cada vez, errando, acertando, errando de novo... A vida não é um comercial de margarina, mas a gente pode criar aquelas memórias que falei mais acima. São elas que ficam para sempre. São elas que importam e que nos arrancam sorrisos nos momentos de saudades. Eu sei, eu estou passando por isso, desde que o vovô se foi. As memórias são meu alento diário.
Amo vocês, meus filhos. Mesmo no meio de uma tempestade de sentimentos bagunçados dentro de vocês, nunca esqueçam do amor infinito que eu trago dentro de mim. Posso ser vendaval às vezes, mas também sou calmaria, e meus abraços sempre serão seus, meus amores.
Vamos seguindo de mãos dadas!
Beijos!!!
Mamãe