quinta-feira, 31 de março de 2011

O Despertador que Você Engoliu

Eu só queria saber quando é que foi que você engoliu um despertador e eu não vi... Porque só pode ser isso, filha. Como é que, todo santo dia, exatamente às 05:45 da manhã, você começa a "conversar"no berço?! E não importa a que horas vá dormir. Geralmente, às sete e meia da noite, você já está sonhando, mas, dia desses, por conta de uma visita aqui em casa, foi dormir tarde, quase à meia noite. E a mamãe aqui, abestalhadamente, achando que você dormiria um pouquinho mais no dia seguinte... Que nada! Exatamente às 05: 45, começaram os "mamã", "ai, ai", "dáááá", "óóó"e aquelas outras palavras do seu vasto vocabulário norueguês (ou dinamarquês?!), que só você entende. E eu, feito um zumbi, saio da cama me arrastando para lhe resgatar do berço, enquanto seu pai "finge"que continua dormindo. Ser mãe é "padecer no paraíso", né?! Hunf!


Depois, fraldinha trocada, leitinho no "bucho", você, toda garbosa, encontra o papai (que, finalmente, levantou) e dá aquele "xauzinho"maroto, pois já sabe que, quando ele veste a farda é porque vai sair. E, então, restamos nós duas... a mamãe zumbi e a filhinha super-hiper-mega-blaster acordada, doida para brincar, correndo dentro de casa e treinando seu idioma nórdico a plenos pulmões... Ai, ai, a doce maternidade... Será que dá para atrasar o reloginho só um pouco, filhota?! É que se essas minhas olheiras aumentarem, nem meu estoque de corretivo vai dar mais conta do recado, e o jeito vai ser assumir, de vez, esse meu lado panda de ser.


quinta-feira, 24 de março de 2011

Você

Você cresce a olhos vistos, filha. Muito curiosa, quer tocar em tudo, experimentar novos sabores, descobrir o mundo ao seu redor. Dia desses, fomos ao zoológico, e você se encantou pelo elefante, pelos macacos, pelo tigre... Corria e gargalhava, enquanto eu e seu pai lhe admirávamos, embasbacados com tamanha felicidade. Você é assim, meu amor: feliz! Diverte-se com a simplicidade de seus brinquedos, no balanço e no escorregador do parquinho do prédio, com as bugigangas que encontra na gaveta “liberada” do escritório, com as panelas do armário da cozinha, com as outras crianças que encontra pelo caminho... Você espalha alegria por onde passa, aperta as mãos das pessoas, “oferece” sua chupeta a todos... Um encanto.

Claro, existem aqueles dias de birra absoluta, quando você se joga no chão aos gritos, com raiva de alguma coisa. Mas há muitos momentos de carinho também: quando você me abraça bem devagar, encosta a cabeça em meu ombro ou o rostinho junto ao meu, como se estivesse me beijando. Nesses momentos, você me desarma e me faz esquecer completamente os momentos difíceis desta vida.

Em uma noite dessas, enquanto você e seu pai dormiam, vi, na TV, o depoimento de uma menininha que, do alto de seus seis anos, desabafava, em lágrimas, a falta que sentia da mãe. Não que a mãe não estivesse presente fisicamente em sua vida. Estava. No entanto, não brincava com ela, não a levava para passear, não a procurava para conversar... Enfim, vivia na mesma casa, mas ignorava sua existência, em nome do trabalho e das ocupações diárias. E aquela menininha, com olhos de adulta, contava o quanto aquilo a fazia sofrer. Eu acho que chorei mais do que a própria mãe daquela criança ao ouvir aquelas duras palavras. Imaginei se, algum dia, eu farei algo parecido com você. Espero que não, meu amor. Espero ser sua mãe, amiga e companheira até o fim de meus dias. Espero que você sempre encontre em mim um porto seguro quando o mundo se tornar complicado demais e você precisar de um ombro para descansar. Espero que possamos dar muitas gargalhadas juntas e chorar abraçadas também, quando for o caso. Espero, simplesmente, ser uma boa mãe, acertar, errar e ter humildade para pedir desculpas. E, finalmente, não espero que você me ame... Só que me deixe lhe amar. Isso é o que eu sei fazer de melhor nesta existência. Para sempre.

Beijos, minha estrela guia.
Com amor,
Sua mãe

quinta-feira, 10 de março de 2011

E Não Deu Samba...

Nosso primeiro carnaval no Rio foi o óóóó... Primeiro, resolvemos aceitar o convite de um velho amigo de seu pai para passar o domingo na casa dele, em Vargem Grande (loooonge para caramba!). Bem, ele a esposa são ótimos, super educados, gente boa, mas... a casa, nem de longe, é segura para crianças. Cheia de escadarias (perfeitas para você que adora subir e descer degraus, me deixando louca de medo) e, o pior, com nada mais, nada menos, que quatro cachorros (sendo três enooormes) soltos dentro de casa. Claro que você amou os "bichinhos" e queria ficar perto deles o tempo inteiro. Resultado: eu, apavorada, e seu pai com o eterno "relaxe, que eles se entendem". Só que não foi bem assim, porque o menor deles (graças a Deus, o menor) tentou lhe morder e só não conseguiu porque eu lhe puxei antes.

Bem, acabamos ficando por lá o carnaval inteiro e eu me cansei muito mais do que se estivesse em casa. Para completar, choveu todos os dias, e seu pai gripou, teve febre, dor de ouvido, etc. Eu também gripei, mas não pude descansar nem um minuto porque tinha que ficar subindo e descendo escadas com você, além de tentar desviar sua atenção dos "au-aus" gigantes.
Como disse, o casal era ótimo, mas eu preferia um carnaval mais tranquilo. A fantasia de Minnie que comprei para você vestir no bailinho do clube nem foi usada. Ficou pendurada no armário, junto com a minha vontade de assistir aos desfiles das escolas de samba, comendo brigadeiro, sentada na poltrona da nossa sala de estar. Quem sabe no ano que vem, né?!

Beijo!
P.S: Mas, eu ainda vou colocar a fantasia em você, nem que seja só para tirar fotos, ok?!

quinta-feira, 3 de março de 2011

"Acho que não sei quem sou, só sei do que não gosto..."

Há tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, filha. Tantas incertezas quanto ao futuro... Talvez, fiquemos no Rio mais dois anos...Há uma grande possibilidade de isso acontecer... Ao mesmo tempo, eu e seu pai ficamos pensando se isso vale a pena... Se já não é a hora de parar em algum lugar... Digo algum lugar, pois, embora tenhamos um apartamento na minha terrinha, seu pai tem outros projetos em mente (que, apesar de não me alegrarem muito, podem ser financeiramente interessantes).
Confesso que me sinto meio perdida por aqui. Acho que é porque eu tinha alguns planos para esta cidade que acabaram não dando certo, já que sua babá resolveu voltar para Belém. Ela me faz uma falta imensa!!! Temos outra pessoa nos ajudando aqui, três vezes por semana, mas não é a mesma coisa. Você ainda não se acostumou com ela e acaba ficando pregada comigo vinte e quatro horas por dia. Assim, estudar e trabalhar ficam um tanto quanto difícil.
Eu queria me sentir mais útil, filha. Voltar a produzir, sabe?! Também queria que sua madrinha estivesse aqui para conversar comigo (por telefone, não é a mesma coisa). Sinto falta de uma amiga de verdade para desabafar. Na verdade, eu queria tantas coisas... Dar um irmão ou irmã para você também estava nos planos, mas, agora, nem sei quando ou "se" isso acontecerá. Entenda, a vontade é enooorme, mas a minha idade também é (enooorme!). Então, não sei mesmo se conseguirei realizar esse sonho/projeto/plano/vontade/desejo, etc, etc, etc. O fato de não estar trabalhando também não ajuda muito.
Sua mãe é confusa, filha. Muito confusa. Desculpa, tá?!
Continuo te amando muito, desde sempre e para sempre!
Beijos!